Artigo recolhido do site www.primeiraliga.com, sobre um estudo referente ás divisões de escalões na formação em Portugal.
O leitor certamente ficou a questionar-se quanto ao título deste artigo. “O que é que nascer no início do ano tem a ver com o talento para se ser futebolista?” - deve estar a perguntar a si mesmo.
À primeira vista não tem nada, mas a verdade é que no meu acompanhamento das camadas jovens do futebol nacional, reparei que muitas vezes abundavam os jogadores nascidos no início do ano e faltavam os nascidos no final do ano.
Não satisfeito com uma noção meramente empírica, decidi averiguar e concluí que esta ideia estava correcta.
Através dos dados publicados nos sites oficiais dos três clubes grandes nacionais, dividi os jogadores por meses de nascimento e o resultado fala por si. O número de jogadores do Sporting CP é muito inferior devido ao reduzido número de datas de nascimento disponíveis.
Verifiquei que o número de jogadores vai decrescendo à medida que os meses do ano vão passando. Isto é comum aos 3 clubes.
A ideia de que o talento tem meses em que predomina, não tem qualquer sentido. Resta então perceber o que leva a que isto suceda.
Será que a taxa de natalidade também decresce ao longo dos meses do ano? Se assim fosse, havendo mais crianças em Janeiro, seria provável que houvesse nesse mês mais jovens com talento para jogar futebol.
Depois de consultados alguns dados do INE, verifiquei que essa ideia não tinha qualquer fundamento. A taxa de natalidade não é fixa, mas não tem variações tão lineares que possam levar a resultados destes. Há até vários meses do ultimo semestre com mais nascimentos que alguns outros meses do primeiro semestre.
A resposta para estes resultados é óbvia para quem acompanha a formação em Portugal. As divisões de escalões na formação são feitas a partir do início de cada ano civil. Assim sendo, para se jogar, por exemplo, nos sub-13, tem de se ter nascido em 1995. O grande problema é que um miúdo que tenha nascido em Janeiro de 1995 (portanto mais velho), tem geralmente uma evolução física e mental diferente de um outro nascido em Dezembro do mesmo ano (logo mais novo). Esta diferença nota-se muito, sobretudo até ao final da puberdade.
Pensei ainda que devido ao aproximar do final da puberdade, esta diferença fosse menos evidente nos escalões de sub-19 e sub-18 (vulgarmente conhecidos por juniores). Mas a verdade é que se mantém a mesma tendência.
Estes dados, mostram-nos que um jovem nascido nos primeiros meses do ano terá muito mais probabilidade de se conseguir afirmar no futebol de formação. Mas será que os clubes não estão a perder talentos, tapados por outros jovens que se destacam apenas por serem mais velhos?
Creio que sim. Não falamos dos grandes talentos ao, nível de um Cristiano Ronaldo ou Figo, porque esses sobressaem muito. Mas alguns jogadores menos vistosos, mas de grande qualidade, podem vir a não ser bem aproveitados porque, ao longo da evolução futebolística, não sobressaíram o suficiente em relação a colegas alguns meses mais velhos (e mais fortes) do que eles.
Penso que seria interessantes os clubes criarem nos escalões etários mais baixos, equipas só para jogadores nascidos nestes meses, para equilibrar as oportunidades. Caso contrário acabaremos por ter esta grande discrepância entre meses do ano e alguns jogadores de qualidade serão perdidos.
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